Radio e a Falta de Adversidade


Por Emerson José - Antena 

A falta de diversidade musical nas emissoras de rádio em cidades como Aracati, no Ceará, reflete um problema recorrente em muitas regiões do Brasil: a homogeneidade da programação, que muitas vezes privilegia um único gênero — no caso, o forró — em detrimento de outros estilos que poderiam enriquecer a experiência cultural e emocional dos ouvintes. Excetuando-se uma emissora gospel, a ausência de alternativas voltadas para o que poderíamos chamar de "boa música" — um conceito subjetivo, mas que aqui se refere a estilos mais variados, melódicos e com apelo universal, como o adulto contemporâneo — deixa um vazio para aqueles que buscam algo além do ritmo dominante local. Em contraste, emissoras como Antena 1 e Alpha FM, conhecidas por seu sucesso em grandes centros urbanos, oferecem um modelo de programação que não apenas atrai audiência, mas também promove benefícios psicológicos e sociais significativos.A Programação Musical de Antena 1 e Alpha FMAntena 1 e Alpha FM são referências no segmento adulto contemporâneo (adult contemporary, ou AC), um estilo musical que combina pop, soft rock e baladas, geralmente com arranjos melódicos e letras que evocam emoções profundas, mas sem a intensidade agressiva de outros gêneros. Esse formato, que prioriza artistas como The Beatles, Elton John, Adele e Norah Jones, é projetado para agradar um público amplo, frequentemente das classes A e B, que busca qualidade sonora e uma experiência auditiva relaxante. O sucesso dessas emissoras — Antena 1, por exemplo, figura entre as rádios online mais ouvidas do Brasil, e Alpha FM consistentemente lidera rankings de audiência em São Paulo — não é acidental. Ele decorre de uma curadoria musical cuidadosa, que equilibra nostalgia com lançamentos atuais, criando uma conexão emocional com os ouvintes.O segredo está na capacidade dessas emissoras de atender a uma necessidade psicológica básica: o conforto. Segundo o psicólogo musical John Sloboda, em seu livro Exploring the Musical Mind (2005), "a música tem o poder de regular emoções, evocando memórias e proporcionando um senso de continuidade em um mundo caótico" (Sloboda, p. 237). 

A programação da Antena 1 e da Alpha FM, com suas melodias suaves e letras acessíveis, atua como uma âncora emocional, oferecendo alívio ao estresse cotidiano e promovendo bem-estar. 

Em Aracati, onde o forró domina, a falta de opções como essas priva os ouvintes de uma alternativa que poderia atender a essa mesma demanda por equilíbrio emocional.O Impacto Social da "Boa Música"Além do aspecto individual, a diversidade musical nas rádios tem um impacto coletivo. Em The Social Psychology of Music (1997), os autores David Hargreaves e Adrian North argumentam que "a exposição a diferentes gêneros musicais pode ampliar a compreensão cultural e a empatia entre indivíduos, ao mesmo tempo em que reduz preconceitos associados a estilos estereotipados" (Hargreaves & North, p. 156). 

Em cidades como Aracati, onde o forró reflete a identidade regional, a exclusividade desse gênero pode reforçar uma visão cultural limitada, enquanto a introdução de estilos como o adulto contemporâneo poderia abrir horizontes, conectando os ouvintes a experiências globais sem apagar suas raízes.

Emissoras como Antena 1 e Alpha FM exemplificam esse potencial. Elas não apenas entretêm, mas educam musicalmente, apresentando arranjos sofisticados e letras que muitas vezes abordam temas universais como amor, perda e resiliência. Esse tipo de música estimula a reflexão e pode até inspirar criatividade, algo que o ritmo repetitivo e festivo do forró, embora valioso em seu contexto, nem sempre proporciona. Para uma sociedade, isso significa um incremento no capital cultural e na saúde mental coletiva — benefícios que Aracati e cidades semelhantes poderiam colher com uma programação mais diversificada.Por Que a Falta de Opção Prejudica?A monopolização do forró nas rádios de Aracati não é, em si, um problema — o gênero tem raízes profundas na cultura nordestina e carrega uma energia comunitária essencial. No entanto, a ausência de alternativas limita a liberdade de escolha dos ouvintes, algo que vai contra o próprio espírito democrático da radiodifusão. Como já dizia o filósofo Theodor Adorno em Introduction to the Sociology of Music (1962), "a homogeneidade na oferta cultural reflete uma imposição de gosto, e não uma preferência genuína" (Adorno, p. 34). Em outras palavras, se os moradores de Aracati só ouvem forró, não é necessariamente porque o preferem exclusivamente, mas porque não lhes é dada outra opção.Imagine o impacto de uma Antena 1 local, trazendo músicas que acalmam a mente após um dia de trabalho, ou uma Alpha FM que oferece uma trilha sonora para momentos de introspecção. Isso não substituiria o forró, mas complementaria a paisagem sonora, atendendo a diferentes humores e necessidades. A música, afinal, não é apenas entretenimento; é uma ferramenta de conexão humana e autocuidado. 

Privar uma comunidade dessa variedade é, de certa forma, limitar seu acesso a esses benefícios.ConclusãoA supremacia do forró em Aracati reflete uma escolha comercial das emissoras locais, mas também uma lacuna que poderia ser preenchida por formatos como o adulto contemporâneo de Antena 1 e Alpha FM. Essas emissoras provam que "boa música" — melódica, acessível e emocionalmente rica — pode liderar audiências ao mesmo tempo em que promove bem-estar individual e social. Para uma cidade como Aracati, diversificar a programação não seria apenas uma questão de entretenimento, mas um passo rumo a uma sociedade mais equilibrada e culturalmente enriquecida. Como diria Sloboda, "a música é um espelho da alma humana" — e oferecer mais opções é permitir que esse espelho reflita todas as suas facetas.


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